segunda-feira, outubro 20, 2008

CO2

A segurança ambiental, que todos nós desejamos, depende de uma economia baseada no baixo carbono. As consequências ambientais, da nossa dependência aos combustíveis fósseis, são sobejamente conhecidas – efeitos de estufa, subida do nível das águas, alterações climáticas, o degelo no Árctico…


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Just Outside Sous,1961

O nosso futuro, como também todos nós sabemos, depende das estratégias que hoje forem definidas para alterar o actual estado do mundo.

Na semana passada, a forma como a União Europeia (UE), se uniu para fazer face à crise financeira, garantindo para já a liquidez monetária, impressionou o mundo. O plano de Gordon Brown, mostrava aos americanos as fragilidades do plano Paulson, e Sarkozy, com o seu voluntarismo e persistência mostrava aos europeus, que em situações de crise, a Europa tem quem a comande.
Se o consenso no plano de resposta à crise financeira foi um sucesso, o consenso face às reduções de emissão de dióxido de carbono, poupança energética e transição para as energias renováveis foi um fracasso. Itália e vários outros países de Leste, contestaram veementemente o acordo definido no ano passado pela UE. Berlusconi definiu a situação :” as empresas não estão absolutamente em condições de suportar os custos da regulamentação proposta, sobretudo devido à crise económica e financeira”. Mais uma vez se adia medidas que são tão ou mais urgentes que a actual crise económica.

No início do século XX, os avanços na física moderna permitiram ao homem explorar novos mundos. Se à época, na maior parte dos países a física pertencia ainda aos laboratórios universitários, na Alemanha, as ligações entre a indústria e os laboratórios de investigação era uma realidade.


Albert Renger-Patzsch, Laboratory Glasses, Schott Galssworks, Jena, 1934

Por exemplo, o grande laboratório da Universidade de Leyden tinha ligações estreitas com a indústria de refrigeração e os institutos Kaiser-Wilhelm-Gesellschaft, de Berlim-Dahlem, fundados em 1911, eram uma consequência do interesse da indústria pesada alemã pela investigação científica. A indústria química e eléctrica, que deviam a sua existência inteiramente à ciência,


Albert Renger-Patzsch, Insulators, 1927

transformavam cientistas, como os Siemens, em homens de negócios. No virar do século, a Grã-Bretanha, o primeiro país a industrializar-se, era agora ultrapassado pela crescente indústria alemã, e a região do Ruhr, rica em carvão, passou a ser o coração industrial da Europa.
A indústria transformava a economia agrícola da região numa economia do carvão e do aço. As pequenas cidades e aldeias agrícolas do Ruhr, eram engolidas por cidades industriais, de extensa aglomeração urbana.


Albert Renger-Patzsch, Landscape near Essen, c. 1930

Construíram-se edifícios para albergar os operários que trabalhavam nesses complexos industriais, onde enormes chaminés, dominavam, numa escala sobre-humana.


Albert Renger-Patzsch, Victoria Mathias Mine in Essen, 1929

A partir de 1926, no Ruhr, Albert Renger-Patzsch, fotografa a transição e as alterações dessa paisagem, onde em vez das árvores todas diferentes as chaminés que se repetem dominam.


Albert Renger-Patzsch, Cool Mines at Essen, Schoenebeck, 1929

A ausência do homem é patente nas suas fotografias, e quando aparece serve para dar escala,


Albert Renger-Patzsch, Blast Furnace Works in Duisburg, 1928


Albert Renger-Patzsch, Ruhrchemie, Oberhausen-Holten, 1933-34

como fizeram no Egipto, os fotógrafos que nos primórdios fotografaram as pirâmides.

Para Renger-Patzsch a identidade do Ruhr está nos subúrbios de Duisburg, nos complexos industriais, nas habitações dos mineiros,


Albert Renger-Patzsch, Back Tenements near the Zinc Works in Essen, 1930

nas casas rurais que persistem


Albert Renger-Patzsch,Landscape near Essen, Rosenblumendelle Mine in the Background, 1928

e nas estradas periféricas de Essen.


Albert Renger-Patzsch,Country Road near Essen, 1929

Trinta anos depois, 1957, o fotógrafo de Praga, Josef Sudek, nas estradas periféricas da região mineira de Litvínov e Most, na Checoslováquia,


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Sight of Quido from Komorany, 1959

fotografa as transformações da paisagem, provocadas pela indústria.


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Air-duct to the chemical factory, 1961


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Former Horni Záluzi, 1962


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Air-duct to the chemical factory, 1962


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Air-duct to the chemical factory, 1961

Em primeiro plano, as árvores que morrem de pé,


Josef Sudek, do livro Sad Landscape,Long-flooded alleyway, 1962

ao longe, muito ao longe, as chaminés fumegantes que se repetem,


Detalhe

vêem-se dificilmente.

Nos finais dos anos setenta, a desactivação da exploração mineira no Ruhr, levou a região a ter que apostar em novas tecnologias e serviços.

O português Luis Palma, em 1999, na região Basca fotografa da estrada


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Barakaldo

os vestígios de uma indústria obsoleta. Na sua série - “Landscape, Industry, Memory”-restam só as memórias de uma arqueologia industrial em vias de desaparecimento.


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Sestao


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Sestao


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Sestao


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Olaberria


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Donostia


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Behobia

Mas a indústria poluente, não é só passado e memória, e na cimeira que decorreu na semana passada, Angela Merkel, que há um ano propôs aos 26 outros países da UE uma estratégia ambiciosa contra o aquecimento global – conseguir até 2020 reduzir 20% dos gases com efeito de estufa, sobretudo o dióxido de carbono, congratulou-se com o fracasso das negociações, pois a Alemanha, continua a ser um país com uma base industrial importante, que o seu Governo agora quer proteger. Os custos da transição para uma economia europeia pobre em carbono,adiaram mais uma vez a protecção do ambiente.
Num mundo que se globalizou, a mentalidade não muda.


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